Carina Luft, natural de Montenegro – RS e egressa da oficina literária de Charles Kiefer, escolheu a podofilia (fetiche por pés) como ponto de partida para se enveredar pelo mundo do romance policial. A novela, publicada em 2010 pela editora Dublinense, tem como cenário a pequena cidade ficcional de Adenauer no interior do Rio Grande do Sul, que está abalada por uma série de crimes. Jovens aspirantes à modelo começam a aparecer mortas e seus pés, arrancados dos corpos são levados como troféus. Cabe ao já calejado delegado Weber e ao jovem investigador Nestor a tarefa de descobrir e prender esse assassino psicopata.
Diferentemente do formato ao qual estamos acostumados em se tratando de literatura policial, em Fetiche, Carina escolheu entregar os assassinos (pelo menos parcialmente) logo de cara. Retira do leitor a atividade de tentar descobrir o assassino antes da conclusão da história, para investir no ato investigativo em si. Na rotina da DP em juntar as provas, retirar algum sentido delas, entender a mente do assassino e assim o capturarem.
Como bem lembrou Luiz Alfredo Garcia-Roza em recente entrevista ao Suplemento Cultural Pernambuco: “…o conto policial ainda segue o caminho sugerido por Poe: um enigma a ser decifrado, um método de decifração e o decifrador/detetive. Se eliminarmos um desses componentes, quebramos a estrutura básica da mistery novel.” A forma como Fetiche foi pensado por Carina, acabou tornando o enigma fraco, ao tirar o foco do assassino e mirá-lo no ato investigativo, a narrativa acabou ficando um pouco mecânica, uma simples atividade de coleta provas e nada mais, o método de decifração e a atividade do decifrador também acabaram enfraquecidos. A autora pecou ao negar a história um lado psicológico e em não aprofundar-se mais nos personagens, em especial naqueles que acabaram sendo os maiores protagonistas nesta história: o delegado Weber e o inspetor Nestor. A forma como os personagens são apresentados, os sentimentos de Nestor por Clara, os planos de Weber para seu subalterno… Tudo são indícios de que os planos para os personagens são de longo prazo e que podemos esperar novas histórias envolvendo a dupla, que além de trazerem novas investigações também suprirão facetas não exploradas em Fetiche. Espero que isso não seja apenas uma esperança vã e que nos próximos livros Carina coroe o processo investigativo com uma conclusão que faça jus a todo trabalho despendido e que realmente crie no leitor expectativas sobre o assassino.
Fonte: Entrevista Luiz Alfredo Garcia-Roza – Suplemento Cultural Pernambuco
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