Loney (Andrew Michael Hurley)

Loney

Loney, romance de estreia de Andrew Michael Hurley, traz a história de dois irmãos. Um deles mudo e o outro destinado a ser seu eterno protetor. O livro é narrado em primeira pessoa pelo irmão protetor. Interessante que mesmo Hanny sendo mudo, a ele o direito de sua identidade não lhe é negado. O irmão, apesar de narrador, protetor e intérprete de Hanny, dele nem mesmo seu primeiro nome nos é permitido saber. O que escancara ainda mais o quanto Smith (sobrenome da família) ou Tonto (apelido dado pelo Padre) se anulou ao longo dos anos impelido pela mãe superprotetora e intransigente. E é justamente na construção do relacionamento fraternal, o fato de Smith ser o único capaz de compreender os anseios de Hanny e dele não se importar com a deficiência do irmão, enxergada como uma mácula que precisa ser expurgada pela mãe; que repousa a melhor parte da história de Hurley. Supera até mesmo o Loney e sua atmosfera lúgubre e, principalmente, é muito mais interessante que todas as manias, preceitos e preconceitos da sra. Smith.

A história de Hurley tem início com Smith lendo a notícia do corpo de uma criança que foi encontrado em Coldbarrow. Um lugar sobre o qual há trinta anos ele não ouvia falar, e ao qual será necessário voltar por meio de suas reminiscências.

“Coldbarrow. Aí está um nome que eu já não escutava havia um bocado de tempo. Trinta anos. Ninguém que eu conhecesse o mencionava mais, e eu tinha feito um tremendo esforço para esquecê-lo. No entanto, suponho que eu sempre soube que o que ocorrera lá não permaneceria oculto para sempre, por mais que eu quisesse. ” (Página 11)

Coldbarrow fica em Loney, uma faixa de terra desolada e indômita na costa da Inglaterra. Toda Páscoa a família Smith, o sr. e a sra. Belderboss e o padre Wilfred, sacerdote da paróquia, iam para lá. Era a semana da oração, da penitência e, para a sra. Smith, da busca desesperada pela cura de Hanny. Há trinta anos fizeram sua última viagem ao local, desta vez com um novo sacerdote após a morte do padre Wilfred. Recriminações, dúvidas, comparações e rancores com o padre que desconhece as tradições do grupo são inevitáveis, aliado a isso, alguns moradores do local agem como se não quisessem o grupo ali e, mistérios parecem envolver o casarão Thessaly em Coldbarrow.

A primeira parte dessa história é bem arrastada, mas é fácil entender o porquê. O autor está definindo o Loney, imergindo-nos nessa atmosfera lúgubre, solitária e sufocante. Entendo, mas não é algo que facilite a leitura. Leitores menos persistentes (ou que não tenham problemas em abandonar livros) poderão ser perdidos nessa parte. Quando começam a surgir os primeiros vislumbres de que algo está errado, a trama adquire um tom de suspense e terror psicológico e aí sim, a leitura começa a ficar interessante. É realmente uma pena o quão tarde isso foi trabalhado na trama e que a impressão de um livro arrastado e com partes da narrativa bastante supérfluas já havia se sedimentado.

Falar que quem não caiu de amores pelo livro foi porque não entendeu a vibe da história é ser muito simplista. A ideia de um romance que discorre sobre a fé: o encontro dela e a sua perda; que flerta com o sobrenatural e adquire tons de terror psicológico com um ar de romance investigativo é bastante clara. E, o autor pode até ter sido feliz na forma como trabalhou a religião, a fé e as crenças de seus personagens, mas deixou a desejar no quesito terror psicológico. Nada que precisasse ser escrachado, mas que definitivamente merecia estar presente em mais páginas dessa história. Ele também peca em não unir todos os elementos trabalhados no livro, especificamente os envolvendo a morte do padre Wilfred, algo que ganhou tanto destaque ao longo de toda a narrativa e que teria sido muito melhor aproveitado se estivesse relacionado mais estreitamente aos acontecimentos de Coldbarrow. Perdeu a oportunidade de deixar sua história mais redondinha. No fim, foi uma boa leitura, mas não supriu as expectativas provocadas por todo auê em torno do livro.

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