Lugar Nenhum (Neil Gaiman)

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Lugar Nenhum foi uma história que começou na TV. Inicialmente foi uma série de televisão da BBC que foi ao ar em 1996. Mas, o formato muitas vezes podava ou não fazia jus às ideias pensadas por seu criador, transpor a série para o mundo das palavras foi a válvula de escape encontrada por Gaiman. Desde então, o romance que é considerado um dos expoentes da fantasia urbana tem angariado cada vez mais fãs. Esta nova edição, publicada pela Editora Intrínseca, é a que Gaiman considera a sua favorita. Foi elaborada a partir da combinação das edições originais inglesa e americana e de uma nova revisão. Não sei o quão diferente ela está de suas edições predecessoras, a tarefa exigiria um cotejo minucioso entre diferentes edições. Mas, o próprio Gaiman fala que esta seria a sua versão definitiva, o que já é uma baita recomendação para os fãs de carteirinha atualizarem suas coleções. O fato das capas dessas edições preferidas (aka Os Filhos de Anansi, Lugar Nenhum e Deuses Americanos) seguirem um padrão (muito bonito por sinal) é um incentivo mais do que válido para qualquer bookaholic.

Lugar Nenhum surgiu da vontade de Gaiman em criar uma história fantástica e que ao mesmo tempo lhe permitisse colocar em foco as pessoas que vivem à margem da sociedade. Os quais na maior parte das vezes nos são invisíveis. Para isso ele nos convida a conhecer sua Londres, não a de cima, mas a que vive nas entranhas desta. Um espelho da de cima, mas com suas próprias peculiaridades, pessoas reais e lendas encarnadas. Uma que assim como a outra também é conectada por sua emblemática rede de metrô. Ela que é quase um ser onipresente e onisciente na história criada por Gaiman.

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Foto de Redd Angelo (Fonte)

Mas é lá em cima que essa história começa. É lá que conhecemos Richard Mayhew, um rapaz comum, com uma vida comum e com um futuro já todo programado, mas não por ele. Sua vida poderia ter continuado na normalidade, mas ele resolveu ajudar uma garota que encontra ferida na rua…

“Querido diário,

Na última sexta-feira, eu tinha um emprego, uma noiva, uma casa e uma vida que fazia sentido (ou pelo menos tanto quanto é possível uma vida fazer sentido) até que encontrei uma garota ferida e sangrando na calçada e tentei dar uma de bom samaritano. Agora não tenho noiva, nem casa, nem emprego e estou perambulando por um lugar centenas de metros abaixo das ruas de Londres, com uma expectativa de vida equivalente à de uma libélula suicida. ” (Página 115)

Richard agora é uma das pessoas que caíram pelas brechas do mundo e por não mais se encaixar nos padrões aceitos socialmente tornou-se invisível. Com a antiga vida destruída, só lhe resta embrenhar-se por esse mundo subterrâneo, reencontrar Door (a garota que ele ajudou) e partir para uma jornada de vida ou morte para quem sabe conseguir sua vida de volta.

Richard não é lá um personagem muito marcante, mas aqui está a grande sacada de Gaiman. Ao nos dar um protagonista que praticamente é uma tela em branco, ele nos permite mais do que nos identificar com o agente, nos identificarmos com a sua jornada. E ainda que Richard a comece com muita relutância, ele tem a sua jornada do herói com todos os seus elementos. E é assim, que somos devidamente fisgados para essa fantástica história. Aliado a isso, Gaiman nos brinda com personagens bastante peculiares. A começar por Door e seu estranho dom de abrir caminhos, o Marquês de Carabás e sua maneira tortuosa de conduzir seus negócios, Hunter e todo o seu conhecimento sobre mundos subterrâneos e toda a maldade latente do sr. Croup e do sr. Vandemar. Se tem uma coisa que aprendi lendo Gaiman é que nas suas histórias sempre haverá espaço para os vilões típicos e maus e também para aquele que permeiam aquela zona cinza entre a vilania e a bondade. Os mocinhos, na maioria das vezes não são heróis, só lutam por sua sobrevivência e/ou interesses, ainda que durante o processo um altruísmo heroico possa refulgir. E, se tem algo que Gaiman consegue fazer muito bem, é criar reviravoltas. Lugar Nenhum é um campo fértil para elas e Gaiman nos surpreende constantemente.

Conhecer Londres pelo avesso foi uma experiência fascinante, conhecer o Mercado Flutuante foi quase como participar de uma pesquisa antropológica. Gaiman realmente conseguiu criar uma fantasia de qualidade, dando a evidência necessária às mazelas sociais com críticas sérias e mordazes, mas com o alívio propiciado por passagens repletas de humor. Em uma parte da história, Hunter fala sobre a existência de inúmeras cidades subterrâneas ao redor do mundo, foi impossível não desejar que novas histórias se estendessem para esses lugares. A boa notícia é que demorou, mas Gaiman decidiu retornar ao mundo de Lugar Nenhum. Está vindo um novo livro aí e ele já tem até título: The Seven Sisters. O gatilho para a primeira história foram as pessoas confinadas às margens da sociedade e de certa forma continua sendo para a nova também, desta vez com os refugiados. Mal posso esperar para retornar à Lugar Nenhum ou outro lugar qualquer. Desde que seja no subterrâneo, tudo bem.

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