“Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe a distância
servem para poesia. ” (página 45 – Matéria de Poesia)
Apesar de conterrâneo, só conhecia a obra de Manoel de Barros por meio de pequenos fragmentos: uma citação aqui outra acolá. Decidida a finalmente conhecer um pouco mais sobre aquele que é conhecido como o ‘poeta das infâncias’ por tratar de temas tão singelos em seus poemas, peguei a antologia Meu Quintal é Maior do que o Mundo publicada pela Editora Alfaguara em 2015. A antologia propõe trazer uma pequena amostra de cada uma das principais obras de Manoel de Barros, abarcando sua produção de 1937 até 2010. Há excertos de dezoito obras do autor.
Não faz muito sentido eu comentar os “pedaços” aqui presentes de cada uma dessas dezoito obras, mas há algumas que gostaria de pontuar. De Compêndio Para Uso dos Pássaros (1960) temos dois excertos nos quais a vida pueril do menino do mato, aquela que dizem Manoel carregou consigo durante toda a vida, transparecem. Do Gramática Expositiva do Chão (1966), o poema Desarticulados para Viola de Cocho me pegou de jeito por trazer o regionalismo e a cultura mato-grossense. O Livro de Pré-Coisas (1985) traz uma faceta diferente de Manoel. Não são poemas que temos aqui, mas pequenos textos com um quê de crônica. Agroval, um desses textos, é de uma singeleza singular. Nele, Manoel discorre sobre o ciclo da vida no Pantanal com toda sua rusticidade, simplicidade e esplendor. Há muito da tradição pantaneira nesses escritos e essa é uma obra que definitivamente quero ler em sua completude. Em Retrato do Artista Quando Coisa (1998) fica a amostra do Manoel que adorava brincar com o sentido das palavras, que não enxergava limites nelas, que defendia o direito de o verbo delirar e que fazia a poesia do absurdo.
“Só as palavras não foram castigadas com
a ordem natural das coisas
As palavras continuam com os seus deslimites. ”
(página 112 – Retrato do Artista Quando Coisa)
Enfim, a obra fornece um bom apanhado da produção de Manoel de Barros. É uma ótima porta de entrada para quem ainda não teve contato com a obra do autor. Para os que já são um pouco versados em sua obra, a antologia fornece um bom retrato da evolução de seus versos. A antologia cumpre muito bem o seu papel de provocar “querença” no leitor por outros escritos do poeta, do menino das palavras.
Leia uma amostra aqui:
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